domingo, 17 de agosto de 2008

Uma pausa para a criatividade

Oriundo da indústria automotiva e de autopeças, na área de desenvolvimento de produtos, sempre trabalhei em atividades de modificar, melhorar e criar novas peças dentro da engenharia de produto, ou seja, instintivamente trabalhei 30 anos com criatividade.

Cheguei a um estágio de minha vida profissional dentro da montadora onde pensei continuar como médio executivo ou cair no mundo para galgar um estágio mais alto de minha vida profissional. A oportunidade que se mostrou foi boa e acabei negociando a minha rescisão de contrato dentro de um programa de demissões voluntárias.

Uma vez "na rua", fora dos portões da mãe protetora, a multinacional, continuei a minha atividade com outra roupagem, como consultor de desenvolvimento de produtos. Após algumas visitas a clientes não foi muito difícil perceber que a criatividade é a base do desenvolvimento de um produto: sentir a necessidade, solucionar, concretizar a solução como produto.

Longe de ser filósofo ou teólogo, costumo dizer que Deus criou o ser humano já criativo por natureza, senão não teríamos chegado ao nível de desenvolvimento em que estamos. Basta externarmos o que Deus já implantou na gente. Não se ensina a ser criativo, porém o que tento demonstrar nas minhas palestras é, através de alguns esclarecimentos, treinar e tornar o profissional ou o empresário a ser criativo.

Ao estudarmos a humanidade percebemos que estamos criando coisas novas em razão exponencial. Por que isso? Simples, uma boa solução excita a criação de uma outra melhor. Assim tem sido a evolução do automóvel, assim tem sido a evolução dos aparelhos eletrônicos, dos remédios etc.

E aí vai a minha primeira recomendação: se você tiver um talento inventivo, basta "desenvolver" o que já existe de bom. Porém, para desenvolver, é necessária uma aptidão de enxergar as coisas de outra maneira, dar novas funções para os produtos conhecidos a sua volta, somar funções, enxergar a possibilidade de migrar valores de um produto para o outro.

Há algumas décadas o correio era a única coisa que chegava em casa, até o momento em que um "louco" achou que uma pizza também deveria chegar em casa. Nasceu a filosofia do delivery.

Acho também que para ser criativo devemos ter hábitos criativos, ou seja, fazer diferente as coisas que sempre fazemos igual: acordar, tomar banho, caminhar para o serviço, abrir a gaveta da escrivaninha do trabalho etc. Porém, existe também a teoria da ala da oposição, que diz que do hábito e do ato repetitivo poderá nascer a necessidade de melhoria, e daí a chance de criarmos algo para uma situação ou necessidade.

O indivíduo normal assistirá a um filme e tentará comprar uma camiseta para guardar de recordação, enquanto o criativo irá comercializar camisetas com o tema do filme. A criatividade, se me permitem dizer, é a outra extremidade da disciplina, das coisas regradas, da rigidez.

Em contrapartida, não incito a anarquia, a falta de disciplina, a desordem. É que se você se prender às regras, às leis e a outros tipos de inibição, não conseguirá criar, pois a sua consciência está presa ao superego. Traduzindo, para criar, dê uma pausa ao superego. Liberte-se, quebre a rotina, as regras; uma vez concretizada a sua idéia, tenha certeza que aparecerá um batalhão de críticos para que você ponha à prova a sua criação.

Agora, esquecendo-se um pouco da criatividade "sonhadora", devemos entender um pouco o processo criativo na indústria, pois no mundo empresarial uma idéia só será lembrada como "a idéia" sendo uma boa criação, após ter sido comercializada, consumida, e alcançada a aceitação pública no mercado. E, portanto, existem outras aptidões e capacidades que auxiliam ou complementam no processo da criatividade, que são a persistência, o trabalho braçal, dedicação, paciência, coragem, e outras qualidades que são peculiares a todo cidadão empreendedor.

Há uma seqüência natural das coisas acontecerem, enxergar a necessidade, criar, concretizar em produto ou serviço. Porém, se não formos empreendedores, nossa idéia não será implementada, e repito, idéia não implementada é idéia inexistente.

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