segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fora dos Portões, com criatividade

Um portão pode significar para alguém uma proteção, é um elemento que separa algo de dentro de algo de fora, ou ainda subjetivamente falando, um marco de início de uma nova vida, para o mundo lá fora, que venceremos se tivermos um pouco de criatividade.

Quando mamãe fechava o portão de casa, após um dia de atividades, e eu após ter brincado o suficiente, entrava para dentro de casa, tinha certeza que aquele ato de trancar o portão me deixava protegido do universo externo, que era a rua, os ladrões, os monstrinhos que a noite trazia. Enfim fechar o portão de casa me dava segurança. Tudo que era difícil, perigoso e feio ficava lá fora e após fechar o portão, em casa me sentia protegido, e tudo resolvido.
Os especialistas sobre a questão, definem que, toda essa situação fica gravado no nosso subconsciente e acaba formando o superego, os paradigmas, os valores pessoais, os filtros de análise, os traumas...
Um portão representa para todos nós, desde criança, algo que separa dois universos o interno que pode ser a nossa casa, do externo, a rua, os vizinhos.
Porém, se continuarmos a expandir este conceito, o significado de interno poderá ser um convento de freiras, o externo a vida dos profanos, a sociedade.
O mundo interno poderá ser ainda a nossa vida numa faculdade, o externo o nosso primeiro emprego, ou seja, ganhar a vida na sociedade.
Continuando, no mundo empresarial, podemos ainda considerar o lado interno a empresa, ou uma multinacional, e o lado externo deste portão, a realidade de uma vida competitiva e sem recursos, muitos desafios, onde predominam as leis da sobrevivência.
Um vez fora dos portões, na sociedade, no mercado competitivo, faço uma pergunta:
Você já se imaginou sem o seu sobrenome? Ou ainda, ser um desconhecido, sem fama e qualificação nenhuma?
Isso é um fato que eu nunca tinha imaginado, até o dia em que deixei a multinacional como executivo da área de desenvolvimento de produtos, e aventurar-me na carreira solo. Até então eu tinha um sobrenome, era o Jorge, da Empresa X.
Para os que já saíram de uma multinacional, ou de uma grande empresa ou deixou uma atividade que exercia há anos, reflitam e chegarão a esta conclusão. Todos nós temos um sobrenome, a Maria do bolo, a Fátima cabeleireira, o Zé do bar, o Mário do açougue, e assim por diante.
Alguns insistem ainda em dizer: O Jorge que “trabalhava” na Empresa X, perceberam que, a grande diferença está na conjugação do verbo no passado, e sob a ótica empresarial ninguém se interessa por quem “já trabalhou”, a não ser “ouvir” as histórias e experiências profissionais deste veterano.
Dentro dos portões de uma grande empresa, uma multinacional, ou uma montadora, ou uma rede de supermercados, o que quer que seja, estamos sobre um tabuleiro, os departamentos, onde conhecemos as regras do jogo, os procedimentos internos, onde nós somos pedras conhecidas, cargos e funções, rejeitadas ou laureadas, e o mais importante, os riscos são conhecidos, e em alguns casos até batizados e nomeados...relatórios financeiros, status do programa, comitê direcional, .etc
Do lado de fora dos portões, nada daquilo funciona, são filas que você deverá enfrentar, apresentações para platéias desconhecidas, convencer pessoas que você nunca viu, e sem dinheiro e crédito e nem patrocínio para implementar suas idéias.
Tive que pensar e tentar sobreviver, e Deus me equipou de uma qualidade que tive oportunidade de utilizar.
Nos meus 30 anos de atividade na área de desenvolvimento de produtos, em 3 empresas, e residências em 3 países, Alemanha, Inglaterra, e finalmente China, acumulei várias competências, algumas ressaltadas e melhoradas com treinamentos, ou outras impostas pelo mercado competitivo, e aprendidas durante a minha vida corporativa nas indústrias.
Destas qualidades profissionais, ou aquelas que Deus me equipou, uma me assegurou a ganhar um novo sobrenome, a criatividade.
Como a minha atuação na indústria sempre foi na área de pesquisa e desenvolvimento, onde era obrigado a criar novos produtos e melhores, ao sair da multinacional, preservei esta aptidão criativa e iniciei minha vida profissional atuando em outras áreas que não seja somente a dos automóveis. Abandonei também a “cara de executivo”, logicamente, e comecei a trabalhar como “consultor” em desenvolvimento de produtos. Aventurei-me em trabalhar em áreas tais como perfumes, restaurantes, pequenas indústrias de componentes mecânicos ou elétricos, lojas, sabonetes, e muitos outros. Ou seja, continuar exercendo a criatividade.
Voltando ao conceito dos portões, podemos conceituar outra mudança, de dentro e fora dos portões para, passado e presente, ou inércia e movimento, ou, melhor ainda, sair da zona de conforto, para uma luta competitiva.
Deste ambiente da zona de conforto, dentro dos portões, para fora no mundo competitivo, afirmo que, só uma habilidade poderá alavancar uma mudança no indivíduo levando-o para o sucesso, a criatividade, logicamente reforçada por iniciativa, motivação e empreendedorismo, qualidades que são obrigatórias para os que perseguem o sucesso.
Fora dos Portões, afirmo e confirmo que a minha única ferramenta tem sido a criatividade, não é pesada, é possível acioná-la a qualquer momento, se bem aplicada, não machuca e produzirá efeitos que o levarão para o reconhecimento e sucesso.
Estando fora dos portões desde 2003, pretendo nunca retornar e “entrar para dentro”, praticar o ostracismo, e estar na "zona de conforto", aqui fora a caça é melhor e autêntica, porém se alguém abrir as portas de sua Empresa não poderei negar o desafio....e dizer que nunca serei funcionário de ninguém...

domingo, 17 de agosto de 2008

Uma pausa para a criatividade

Oriundo da indústria automotiva e de autopeças, na área de desenvolvimento de produtos, sempre trabalhei em atividades de modificar, melhorar e criar novas peças dentro da engenharia de produto, ou seja, instintivamente trabalhei 30 anos com criatividade.

Cheguei a um estágio de minha vida profissional dentro da montadora onde pensei continuar como médio executivo ou cair no mundo para galgar um estágio mais alto de minha vida profissional. A oportunidade que se mostrou foi boa e acabei negociando a minha rescisão de contrato dentro de um programa de demissões voluntárias.

Uma vez "na rua", fora dos portões da mãe protetora, a multinacional, continuei a minha atividade com outra roupagem, como consultor de desenvolvimento de produtos. Após algumas visitas a clientes não foi muito difícil perceber que a criatividade é a base do desenvolvimento de um produto: sentir a necessidade, solucionar, concretizar a solução como produto.

Longe de ser filósofo ou teólogo, costumo dizer que Deus criou o ser humano já criativo por natureza, senão não teríamos chegado ao nível de desenvolvimento em que estamos. Basta externarmos o que Deus já implantou na gente. Não se ensina a ser criativo, porém o que tento demonstrar nas minhas palestras é, através de alguns esclarecimentos, treinar e tornar o profissional ou o empresário a ser criativo.

Ao estudarmos a humanidade percebemos que estamos criando coisas novas em razão exponencial. Por que isso? Simples, uma boa solução excita a criação de uma outra melhor. Assim tem sido a evolução do automóvel, assim tem sido a evolução dos aparelhos eletrônicos, dos remédios etc.

E aí vai a minha primeira recomendação: se você tiver um talento inventivo, basta "desenvolver" o que já existe de bom. Porém, para desenvolver, é necessária uma aptidão de enxergar as coisas de outra maneira, dar novas funções para os produtos conhecidos a sua volta, somar funções, enxergar a possibilidade de migrar valores de um produto para o outro.

Há algumas décadas o correio era a única coisa que chegava em casa, até o momento em que um "louco" achou que uma pizza também deveria chegar em casa. Nasceu a filosofia do delivery.

Acho também que para ser criativo devemos ter hábitos criativos, ou seja, fazer diferente as coisas que sempre fazemos igual: acordar, tomar banho, caminhar para o serviço, abrir a gaveta da escrivaninha do trabalho etc. Porém, existe também a teoria da ala da oposição, que diz que do hábito e do ato repetitivo poderá nascer a necessidade de melhoria, e daí a chance de criarmos algo para uma situação ou necessidade.

O indivíduo normal assistirá a um filme e tentará comprar uma camiseta para guardar de recordação, enquanto o criativo irá comercializar camisetas com o tema do filme. A criatividade, se me permitem dizer, é a outra extremidade da disciplina, das coisas regradas, da rigidez.

Em contrapartida, não incito a anarquia, a falta de disciplina, a desordem. É que se você se prender às regras, às leis e a outros tipos de inibição, não conseguirá criar, pois a sua consciência está presa ao superego. Traduzindo, para criar, dê uma pausa ao superego. Liberte-se, quebre a rotina, as regras; uma vez concretizada a sua idéia, tenha certeza que aparecerá um batalhão de críticos para que você ponha à prova a sua criação.

Agora, esquecendo-se um pouco da criatividade "sonhadora", devemos entender um pouco o processo criativo na indústria, pois no mundo empresarial uma idéia só será lembrada como "a idéia" sendo uma boa criação, após ter sido comercializada, consumida, e alcançada a aceitação pública no mercado. E, portanto, existem outras aptidões e capacidades que auxiliam ou complementam no processo da criatividade, que são a persistência, o trabalho braçal, dedicação, paciência, coragem, e outras qualidades que são peculiares a todo cidadão empreendedor.

Há uma seqüência natural das coisas acontecerem, enxergar a necessidade, criar, concretizar em produto ou serviço. Porém, se não formos empreendedores, nossa idéia não será implementada, e repito, idéia não implementada é idéia inexistente.